Se podes olhar, vê! Se podes ver, repara! José Saramago, "Ensaio sobre a cegueira"

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Não digas nada, amor...

 "Não digas nada, amor.
Deixa que dure apenas o perfil das sombras na parede.

Não sei a estrada que conduz à tua alma.
Mas sei perder-me na calma do teu olhar.
Arde esta eternidade luminosa.

Volteiam as traças, as crisálidas.
Lá fora, a luz é crua.
Estou nua, amor, veste-me com as túnicas leves das mãos.

Já não sei se não sei a estrada que condiz à tua alma.

Estou nua, amor, mas despe-me outra vez com a lua da tua luz
para que mais nua, amor, não saiba nada, nada saiba
e grite para que fales,  amor, fales o que te  não quero ouvir.”

Fátima Murta – “Coisa talvez amada”- 1987

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